segunda-feira, 10 de maio de 2010

A VIAGEM DE ONIBUS!



Duas vezes por semana eu resolvi dedicar-me a um curso em São Paulo pensando em aprimorar-me. Assim, toda segunda e quarta-feira eu saia de Campinas e ia até o bairro da liberdade. São 90 kilometros de boa estrada e fora a marginal, eu pegava contra fluxo.

O curso duraria 6 meses e acabou sendo uma ótima experiência. Saia mais cedo do trabalho, pegava meu carro e ia ouvindo meus cds tranquilamente, ao final das aulas, saia para jantar com amigos e voltava para casa. Um amigo meu deu uma dica: "-Cara, porque você não vai de ônibus, têm saidas de 10 em 10 minutos e o metrô para na porta!". E resolvi experimentar fazer o trajeto, até pensando na possibilidade de dormir na volta e economizar no final das contas. Parecia a coisa certa.

Peguei o ônibus com duas horas e meia de antecedência. A condução saiu da rodoviaria e nem havia rodado 200 metros já parou para pegar passageiros (sabe quem quer economizar a taxa de embarque), e foi parando até pegar a anhanguera! Nisso tinha se passado 40 minutos, não estava acreditando nisso! Pensei com meus botões, na pista ele tira o atraso... Que nada, puro engano, o motorista colou nos 80km/h e foi o tempo todo. Eu me contorcia de nervoso....

Quando já estavamos chegando em São Paulo, resolvi sentar-me mais a frente (na expectativa de chegar antes...rs...rs...rs) e percebi uma mulher que falava alto, e gesticulava demais. E me chamou atenção aquela agitação. Vi que tratava-se de uma mãe de cerca de uns 30 anos falando com sua filha de cerca de 8 anos, uma menina muito magra e de olhar triste.

"-Não vai sair dai Laura! Você não vai sentar com sua avó lá na frente! Vai ficar aí sentadinha" a menina sussurou algo e aquela mulher respondeu: "-NÃO LAURA! VAI FICAR AI E NÃO ENCHE O SACO. QUE MENINA IRRITANTE!" (isso foi dito aos urros). A menina sussurou algo mais e derrepente a mulher levantou-se e puxou a menina pelo braço e arrancou ela do assento próximo a janela e berrou: "-VAI PRAGA! AGORA VOCÊ VAI NA MARRA!

A pobre menina ficou plantada no meio do corredor e a mãe voltou a sentar. Ela se equilibrava com o balanço do ônibus e ficou ali parada ao lado da mãe. Eu fiquei impaciente com a cena e muito incomodado com aquela situação, sentei-me no banco de trás delas. A menina quase caiu com o sacolejar e pediu para mãe. "- Quero voltar mãe!"

A Besta abaixou naquela mulher e em um único movimento, pegando a menina pelos braços, arrastou a menina por cima dela como se ela fosse um saco de batatas. Levantou-se e começou a espancar a menina, dizendo: "-TOMA ISSO! Um tapa! Dois tapas! No terceiro, eu levantei e segurei o braços daquela doida! E disse: "-Chega! Você não encosta mais nenhum dedo nessa menina, pelo menos aqui na minha frente!"

Nem preciso falar que o ônibus ficou mudo! Ninguém reagiu! E aquela mulher enfurecida berrou. "-Ela é minha filha e eu bato nela sim!" Ela se achava cheia de razão e retruquei! "-Se você encostar nela novamente esse ônibus vai parar na próxima delegacia e você vai responder ao delegado os maus tratos a essa menina e não vão faltar testemunhas!"

Ela sentou-se murmurando ofensas e me encarando até a parada final dentro da rodoviária.

Ela não se deu por satisfeita e ao ficar em pé para sair do onibus, virou-se para mim em alto tom e disse: "-Está feliz que deu seu show? Freud explica!" E saiu arrastando Laura, que ao sair do seu lugar, parou, encarou-me e deu um sorriso triste e amarelo! Meu coração apertou!

Um dia essa menina vai lembrar que um estranho, dentro de um ônibus, foi em seu socorro para evitar um dos muitos ataques e agreções que certamente, devia de ser uma constante em sua curta e indefesa vida.

Nunca mais fui para São Paulo de ônibus!

15 comentários:

BAU DO FAEL disse...

rs...um dia de fúria!

Gosto dessa história...defensor das menininhas espancadas...rs

Abraço...

David® disse...

cara ..vc tem historias pra contar nessa vida ne? ja pensou num livro?rs

abração!

PS: qto a chuca...ah...deixa pra lá...melhor vc não entender..r.s

Nina disse...

Ai, Marcos...

Meu coração de mãe contorceu-se, espremeu-se, voltou ao tempo e lhe ajudou a segurar o braço da doida. Parabéns!

Impressionante o restante do ônibus não ter reagido e lhe apoiado. Lembrou-me o ótimo post do Rodolfo Araújo sobre a Paralisia Coletiva (http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-latane-darley-e-a-paralisia-coletiva.html)

Que bom que você estava lá!

Beijo!

Francisco disse...

Amigo Marcos!
Obrigado pela indicação do meme. Já respondi lá no blog.
Volto depois para comentar seu post.
Abraço.

Madame Mim disse...

Nossa Andrino,
Que triste essa cena! O post foi tão verdadeiro, que me vi na cena e me sensibilizou muito!
Infelizmente eu não consigo aceitar tanta violencia contra a criança, que tem ocorrido nestes ultimos anos...
São tantos casos, que não sei como será essa proxima geração, talvez pessoas traumatizadas ou viciadas em calmantes, anti depressivos, etc...
Vc fez muito bem, porque ficar só olhando é como ser cumplice desta barbarie!
Quanto ao onibus, realmente as vezes temos experiencias boas ...outras ruins...viajei muito à SP de onibus, pois fiquei trabalhando lá e morando aqui por dois anos e tive oportunidade de presenciar muitas coisas...
Bjs
(Ah...obrigada fiz a correção dos numeros do meme, é que eu tinha numerado duas vezes o cinco...rsrs)

. disse...

Caraca, perdestes a chance de desferir seu primeiro murro na face de uma mulher folgada? Eu não acredito!!!

Haya disse...

Choquei!
Mas olha, eu ri quando você falou saco de batatas. Porque eu sou muito visual, gente e levo coisas ao pé da letra.
Enfim, a mãe fez a loca.
Me-do!
Beijão!

Dil Santos disse...

Oi Marcos, tudo bem?
Nossa que horror, essa mulher é uma vaca, desculpe a expressão. Parabéns pelo seu ato, com toda certeza ela se lembrará disso.
Ô Marcos, muitíssimo obrigado de coração mesmo por vc incluí-lo em suas orações e q Deus o abençõe e ilumine sua vida.
Abraços
:)

Arsênico disse...

genthy... eu tenho um Ódio mortal contra pessoas que maltratam crianças! Eu tenho vontade de EU espancar a pessoa!

Se não tem paciência com crianças então porque engravida? Ou na pior da hipóteses... dê para adoção!

Eu teria feito a mesma coisa que você!

***

xD

Flávia Batista disse...

Oi Marcos,

Primeiro de tudo. super obrigada pelos seus comentários e elogio lá no blog! Fico muito lisonjeada.

Sobre o post: EU NÃO CREIO NISSO!

deixa eu ver se entendi: a menina estava pedindo para ir sentar com a avó e a mãe não deixou, gritando com ela para que ela ficasse em pé no ônibus, enquanto ela (a mãe) ia sentada, foi isso?


Enfim, eu acho que algumas mulheres simplesmente não nasceram para ser mãe. Não sou completamente contra bater em criança. Quando eu era uma, lembro de ter apanhado uma única vez e foi o suficiente para saber que não devo, jamais, se quer pensar em gritar ou bater no meu pai. Em alguns casos, levantar a mão para o filho, significa impor respeito, em outros abuso mesmo. Tem gente que não tem paciência e sai espancando filho por aí, achando que isso é educação. O pior, o que essa criança vai ser no futuro - quase certo de ser uma louca que nem essa mãe - vai ser reflexo dessa criação dela. Isso é muito triste.

E parabéns, viu? Muito corajoso da sua parte ter impedido-a de bater mais na criança.

Mas a pergunta que me faço é: você ainda vai querer fazer esse seu trajeto rotineiro de ônibus? heheheheheheh

bjs

Bill Falcão disse...

Não é à toa que a filha tinha um olhar triste!
A mãe é um exemplo de como NÃO não ser mãe!
Abraços!

Lia disse...

Parabens pela tua atitude.
Se cada um fizesse sua parte n veriamos tantos casos assim.
Um beijo

Anna Vitória disse...

Viajar de ônibus sempre traz histórias, engraçadas e tensas, como essa que você acabou de contar. Fico abismada com algumas atitudes que as mães tem com seus filhos, eu quando era pequena levava lá umas palmadas, mas que nunca poderiam ser consideradas como agressão, até porque minha mãe nunca o fez com raiva e estupidez.
A última vez que inventei de ir pra Sampa de ônibus foi uma droga, eu estava sozinha e o ônibus quebrou em Ribeirão e nós ficamos quatro horas parados na estrada.

She disse...

Aff! O pior é que isso existe aos montes...
Bjo, bjo!

Cris Medeiros disse...

Já fiz a mesma coisa num supermercado! Uma dona que espancava uma menina de forma brutal! Eu fiquei irada e me meti, foi um barraco só! Chegou a juntar gente, mas pelo menos ela parou com aquilo! É horrível isso!


Beijocas

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pitaqueiros